A ORQUÍDEA
Desde tempos imemoriais as orquídeas foram o grupo de plantas que mais fascínio exerceu sobre o ser humano. Embora só recentemente se tenha feito um progresso louvável em relação ao seu cultivo, desde há muito tempo que são cobiçadas e o seu cultivo no início parecia impossível. Só muito mais tarde (meados do séc. XX) é que finalmente se saíu das trevas do conhecimento e se passou a compreender os aspectos mais importantes da sua cultura.
A família das orquídeas (Orchidaceae) pertence à classe das Liliopsida (comummente designadas monocotiledóneas) e é constituída por mais de 25 000 espécies distribuídas em aproximadamente 800 géneros, com cada vez mais novas espécies a serem adicionadas à lista todos os anos. É uma família cosmopolita, mas os seus membros mais atraentes encontram-se principalmente nos trópicos. O seu nome deriva do termo grego "orchis" que significa testículo, devido à curiosa forma dos pequenos tubérculos que o género-tipo Orchis possui.
Muitas orquídeas são epífitas (crescendo em cima de outras plantas sem as parasitar), mas também existem orquídeas rupícolas (sobre pedras), terrestres e um pequeno número de mico-heterotróficas (não possuem cloroplastos e vivem em associação com um fungo micorrízico ou saprófito, retirando deste todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento).
Quanto ao tipo de crescimento que apresentam, as orquídeas são divididas em dois grandes grupos: as monopodiais e simpodiais. As primeiras apresentam um crescimento indeterminado, no qual o meristema principal está constantemente presente e nunca desaparece, surgindo os escapes florais a partir de meristemas secundários laterais. As plantas deste tipo possuem um hábito tendencialmente vertical (Ex: Vanda, Angraecum, Phalaenopsis). Nas simpodiais os meristemas possuem sempre crescimento bem delimitado (muitas vezes culminando com a floração) sendo o crescimento novamente retomado por outros meristemas adventícios que se formam. (Ex: Epidendrum, Dendrobium, Cattleya, Sobralia, Orchis).
As folhas são simples, com nervação paralela (convergindo no ápice), podem ser muito suculentas ou não, lisas ou plicadas, perenes ou caducas e o seu formato varia desde completamente cilíndricas a lanceoladas e orbiculares (no caso das espécies mico-heterotróficas, as folhas estão reduzidas a estruturas escamiformes). Existem inclusivamente orquídeas com belas folhas cujo colorido dos padrões pode apresentar, para além do verde, vários tons de amarelo, vermelho e prateado, ou combinações destes. No outro extremo estão as orquídeas desprovidas de folhas (Ex: Dendrophylax, Chiloschista) nas quais a fotossíntese é única e exclusivamente (ou quase) realizada nas raízes.
Os pseudobolbos são um dos órgãos mais conspícuos e característicos de muitos membros desta família. A sua principal função é a acumulação e reserva de água para quando há escassez de recursos hídricos, uma vez que o maior problema das plantas epífitas é mesmo a falta de água. Também acumulam reservas energéticas e podem durar alguns anos. Existem pseudobolbos simples e compostos. Os simples (Ex: Stanhopea, Zigopetalum, Oncidium) só apresentam folhas no topo e podem ou não apresentá-las na base. Os compostos Ex: Cymbidium, Catasetum, Phaius) Apresentam as folhas em sucessivos andares regulares em todo o seu comprimento, fazendo com que adquiram um aspecto estriado após a sua queda.
As raízes são outro órgão importante. As das orquídeas terrestres assemelham-se às das outras plantas, com pêlos radiculares, mas as das epífitas são altamente especializadas. Contrariamente ao resto das plantas que só têm uma camada de células na epiderme da raiz, a epiderme das epífitas é multiestratificada formando uma camada protectora à volta do cilindro vascular central. Esta camada (designada de velame), para além de ser altamente aderente a qualquer superfície (incluindo vidro), absorve grandes quantidades de àgua num curto espaço de tempo (tal como uma esponja) e evita a desidratação da raiz. A entrada de água e a respiração numa raiz tão espessa pode ser problemática, por isso as orquídeas com raízes de maior diâmetro possuem umas pequenas estruturas ovais (lenticelas) que facilitam a entrada de água e a respiração. São visíveis a olho nu quando a raiz está molhada (as lenticelas adquirem uma coloração branca contrastando com o fundo verde). Por esta razão não toleram substratos estagnados, apodrecendo rapidamente, pois enchem de água até à saturação, o que as impede de respirar.
As flores das orquídeas são consideradas das mais avançadas e complexas de todo reino vegetal. São perfeitamente zigomórficas (com um só plano de simetria), mas também existem orquídeas com flores assimétricas (Ex: Ludisia, Mormodes). Seja qual for o caso, e mesmo com todas as formas e feitios existentes, todas as flores seguem um padrão e regra básicos, o que as torna inconfundíveis. As flores são constituídas por 2 verticilos e pelas estruturas reprodutoras. O verticilo exterior apresenta 3 sépalas petalóides e estas alternam com o verticilo interior, o qual ostenta as 3 verdadeiras pétalas, sendo uma delas bastante modificada e formando uma outra estrutura que se designa labelo. Este é bastante conspícuo, e pode apresentar as mais diversas formas (tubular, plano, em forma de saco…). Pode também ser articulado, e geralmente tem uma função crucial na polinização da flor. Existem contudo alguns géneros em que o labelo e/ou as pétalas estão muito reduzidos (Ex: Masdevallia, Disa), sendo as sépalas petalóides as estruturas mais salientes e atractivas.
A coluna (também designada gimnostémio) é a parte reprodutora da flor. Nela estão fundidas as partes masculina (estame) e feminina (carpelo). Muitas orquídeas só possuem um estame fértil (contudo as subfamílias mais arcaicas Cypripedioideae e Apostasioideae apresentam dois e três estames férteis respectivamente). O pólen produzido pelo estame está condensado em estruturas chamadas polinídias. Normalmente só existem duas, mas o seu número pode variar até 8. Das polinídias sai um prolongamento (o caudículo) que se liga a um pequeno órgão pegajoso (o retináculo) cuja principal função é a aderência ao polinizador. Toda esta estrutura está condensada na zona anterior da coluna e protegida por uma cápsula (a caliptra) que a protege. O estigma apresenta-se mais posteriormente e é extremamente pegajoso. Forma uma concavidade onde as polinídias são depositadas. Entre o estigma e o estame existe um outro órgão (o rostelo). Este evita a auto fecundação e é responsável muitas vezes pela remoção das polinídias do polinizador.
O ovário é trilocular, ínfero e muitas vezes sofre uma torção de 180º durante o seu desenvolvimento o que faz com que a flor fique ao contrário (consequentemente o labelo também fica virado para baixo, permitindo assim facilitar a aterragem do polinizador). Designam-se ressupinadas as flores que sofrem este tipo de desenvolvimento. Se houver polinização, o ovário incha (processo esse que pode demorar entre meras semanas e largos meses) e chegada a altura da maturação, liberta as sementes que são excepcionalmente minúsculas e necessitam de estabelecer uma relação simbiótica com um fungo no início das suas vidas para que germinem.
Michael Benedito
A família das orquídeas (Orchidaceae) pertence à classe das Liliopsida (comummente designadas monocotiledóneas) e é constituída por mais de 25 000 espécies distribuídas em aproximadamente 800 géneros, com cada vez mais novas espécies a serem adicionadas à lista todos os anos. É uma família cosmopolita, mas os seus membros mais atraentes encontram-se principalmente nos trópicos. O seu nome deriva do termo grego "orchis" que significa testículo, devido à curiosa forma dos pequenos tubérculos que o género-tipo Orchis possui.
Muitas orquídeas são epífitas (crescendo em cima de outras plantas sem as parasitar), mas também existem orquídeas rupícolas (sobre pedras), terrestres e um pequeno número de mico-heterotróficas (não possuem cloroplastos e vivem em associação com um fungo micorrízico ou saprófito, retirando deste todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento).
Quanto ao tipo de crescimento que apresentam, as orquídeas são divididas em dois grandes grupos: as monopodiais e simpodiais. As primeiras apresentam um crescimento indeterminado, no qual o meristema principal está constantemente presente e nunca desaparece, surgindo os escapes florais a partir de meristemas secundários laterais. As plantas deste tipo possuem um hábito tendencialmente vertical (Ex: Vanda, Angraecum, Phalaenopsis). Nas simpodiais os meristemas possuem sempre crescimento bem delimitado (muitas vezes culminando com a floração) sendo o crescimento novamente retomado por outros meristemas adventícios que se formam. (Ex: Epidendrum, Dendrobium, Cattleya, Sobralia, Orchis).
As folhas são simples, com nervação paralela (convergindo no ápice), podem ser muito suculentas ou não, lisas ou plicadas, perenes ou caducas e o seu formato varia desde completamente cilíndricas a lanceoladas e orbiculares (no caso das espécies mico-heterotróficas, as folhas estão reduzidas a estruturas escamiformes). Existem inclusivamente orquídeas com belas folhas cujo colorido dos padrões pode apresentar, para além do verde, vários tons de amarelo, vermelho e prateado, ou combinações destes. No outro extremo estão as orquídeas desprovidas de folhas (Ex: Dendrophylax, Chiloschista) nas quais a fotossíntese é única e exclusivamente (ou quase) realizada nas raízes.
Os pseudobolbos são um dos órgãos mais conspícuos e característicos de muitos membros desta família. A sua principal função é a acumulação e reserva de água para quando há escassez de recursos hídricos, uma vez que o maior problema das plantas epífitas é mesmo a falta de água. Também acumulam reservas energéticas e podem durar alguns anos. Existem pseudobolbos simples e compostos. Os simples (Ex: Stanhopea, Zigopetalum, Oncidium) só apresentam folhas no topo e podem ou não apresentá-las na base. Os compostos Ex: Cymbidium, Catasetum, Phaius) Apresentam as folhas em sucessivos andares regulares em todo o seu comprimento, fazendo com que adquiram um aspecto estriado após a sua queda.
As raízes são outro órgão importante. As das orquídeas terrestres assemelham-se às das outras plantas, com pêlos radiculares, mas as das epífitas são altamente especializadas. Contrariamente ao resto das plantas que só têm uma camada de células na epiderme da raiz, a epiderme das epífitas é multiestratificada formando uma camada protectora à volta do cilindro vascular central. Esta camada (designada de velame), para além de ser altamente aderente a qualquer superfície (incluindo vidro), absorve grandes quantidades de àgua num curto espaço de tempo (tal como uma esponja) e evita a desidratação da raiz. A entrada de água e a respiração numa raiz tão espessa pode ser problemática, por isso as orquídeas com raízes de maior diâmetro possuem umas pequenas estruturas ovais (lenticelas) que facilitam a entrada de água e a respiração. São visíveis a olho nu quando a raiz está molhada (as lenticelas adquirem uma coloração branca contrastando com o fundo verde). Por esta razão não toleram substratos estagnados, apodrecendo rapidamente, pois enchem de água até à saturação, o que as impede de respirar.
As flores das orquídeas são consideradas das mais avançadas e complexas de todo reino vegetal. São perfeitamente zigomórficas (com um só plano de simetria), mas também existem orquídeas com flores assimétricas (Ex: Ludisia, Mormodes). Seja qual for o caso, e mesmo com todas as formas e feitios existentes, todas as flores seguem um padrão e regra básicos, o que as torna inconfundíveis. As flores são constituídas por 2 verticilos e pelas estruturas reprodutoras. O verticilo exterior apresenta 3 sépalas petalóides e estas alternam com o verticilo interior, o qual ostenta as 3 verdadeiras pétalas, sendo uma delas bastante modificada e formando uma outra estrutura que se designa labelo. Este é bastante conspícuo, e pode apresentar as mais diversas formas (tubular, plano, em forma de saco…). Pode também ser articulado, e geralmente tem uma função crucial na polinização da flor. Existem contudo alguns géneros em que o labelo e/ou as pétalas estão muito reduzidos (Ex: Masdevallia, Disa), sendo as sépalas petalóides as estruturas mais salientes e atractivas.
A coluna (também designada gimnostémio) é a parte reprodutora da flor. Nela estão fundidas as partes masculina (estame) e feminina (carpelo). Muitas orquídeas só possuem um estame fértil (contudo as subfamílias mais arcaicas Cypripedioideae e Apostasioideae apresentam dois e três estames férteis respectivamente). O pólen produzido pelo estame está condensado em estruturas chamadas polinídias. Normalmente só existem duas, mas o seu número pode variar até 8. Das polinídias sai um prolongamento (o caudículo) que se liga a um pequeno órgão pegajoso (o retináculo) cuja principal função é a aderência ao polinizador. Toda esta estrutura está condensada na zona anterior da coluna e protegida por uma cápsula (a caliptra) que a protege. O estigma apresenta-se mais posteriormente e é extremamente pegajoso. Forma uma concavidade onde as polinídias são depositadas. Entre o estigma e o estame existe um outro órgão (o rostelo). Este evita a auto fecundação e é responsável muitas vezes pela remoção das polinídias do polinizador.
O ovário é trilocular, ínfero e muitas vezes sofre uma torção de 180º durante o seu desenvolvimento o que faz com que a flor fique ao contrário (consequentemente o labelo também fica virado para baixo, permitindo assim facilitar a aterragem do polinizador). Designam-se ressupinadas as flores que sofrem este tipo de desenvolvimento. Se houver polinização, o ovário incha (processo esse que pode demorar entre meras semanas e largos meses) e chegada a altura da maturação, liberta as sementes que são excepcionalmente minúsculas e necessitam de estabelecer uma relação simbiótica com um fungo no início das suas vidas para que germinem.
Michael Benedito
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